Ir para o conteúdo

Casos ARD03 - burrinha-ard

Pular menu


Era uma árvore enorme, copada, que havia defronte à Igreja Matriz de Alto Rio Doce.
Quando eu a conheci, já me parecia se centenária e tinha o tronco estragado pela ação do tempo, contudo, continuava ali firme!
Hoje, poucos se lembram dela, apenas os mais velhos.
À sua sombra, era hábito reunirem-se pessoas para conversar sobre política, negócios, acontecimentos do município, problemas familiares, enfim, era um ponto de encontro para conversa.
Numa noite de forte tempestade, a cotieira não resistiu à força dos ventos e caiu.
No dia seguinte, a notícia de sua queda se espalhou pela cidade e um grande número de pessoas quis vê-la caida ao chão, lamentando todas elas o ocorrido. Era como se um pedacinho de cada uma daquelas pessoas tivesse também ido ao chão.
Todas as pessoas tinham algo a contar sobre a vida da cotieira, lembrando algum fato ocorrido á sua sombra.
Os namorados nela se enconstavam para suas conversas e declarações de amor. Os Chefes Políticos ali se encontravam para confabulações e tomadas de decisões.
Ali também se reuniam os amigos, durante o dia ou à noite, para um bate-papo, para conversar, contar piadas ou casos pitorescos.
Foi ela também testemunha de muitas festas civícas, religiosas e carnavalescas, durante anos e anos. De repente a cotieira caiu, deixando imensa tristeza em todos os seus amigos, uma vez que viu passar diversas gerações, registrando selenciosamente os principais acontecimentos da nossa cidade.
Alguém, quando ela caiu, fêz um soneto denomenado “A Cotieira”, o que provocou certa curiosidade quanto ao seu autor. Ninguém sabia quem era êle.
Uns diziam que o João Moreira, outros acreditavam ser o José Alvim.
Também o nome do Valdomiro Máximo Moreno foi lembrado. Este, na época, era Diretor-Secretário do jornal “ALTO RIO DOCE”, mas, alguém disse:

A PROPOSITO DE UM SONETO

O Soneto “A COTIEIRA”,
Que este Jornal publicou,
Muita suspeita causou
Contra gente fina e séria
Até mesmo o João Moreira,
Que é professor e prefeito,
De ter escrito a “miséria”....
Outro, com ar doutrinario,
De quem não quer contradita
Esta calúnia “palpita” :
“Pelo não ou pelo sim,
O Zé Alvim Boticário
Deve ser autor do “tróço...”
Mas....afirmar eu não pósso
Seja mesmo o Zé Alvim.....”
“ O nome do Valdomiro
Foi no “processo” envolvido...
Mas, um sujeito atrevido
Foi logo dizendo assim:
“Vocês erraram o tiro!
Do Valdomiro não é! ...
Eu juro por São José !...
Pois, onde está o Latim?!..
Vejam só o João Moreira
Um homem sério e direito,
Merecedor de respeito,
Que nunca privou co’as musas
Durante uma vida inteira,
Ser, o infeliz, acusado
Injustamente (coitado!...)
Nestas suspeitas confusas!.
O Josalvim Boticário,
Acima de tais suspeitas,
Vive aviando receitas,
Sem tempo de poetar...
O equilibrio orçamentário
Ao Valdomiro deleita...
E o Joãozico tem “receita”
A’ bessa para “aviar...”
São inocentes, eu grito,
Os acusados presentes!...
Não sou maluco ou sandeu,
Mas eu já disse e repito:
O povo queira ou não queira,
O autor d’ “A COTIEIRA”
Não é ninguém, pois...sou eu!

J. Xópótónese.”

Publicado no JORNAL ALTO RIO DOCE em 04 de maio de 1952



Voltar para o conteúdo