Depoimento de um passante
Quando aqui cheguei há pouco, tomei-me daquela sensação de déjà-vu, à maneira de rememoração de algo já visto ou conhecido. Assaltou-me o sentimento uterino de águas cálidas, ainda que o conforto destas águas me trouxesse contraditoriamente certo estranhamento.
Um dia, descendo a rua do Meio (apelido, claro), mas ainda no início dela partindo da Matriz, meus olhos perderam a capacidade de ver a cores e deparei-me com uma rua em preto e branco. Havia nela o movimento frenético de verdureiros, tropeiros, mascates, ferreiros, mucamas e escravos ao ganho. Homens e mulheres vestiam roupas de outra era.
Rapidamente, a vertigem ou delírio passou. Recompus-me e continuei.
Lembrei-me de Nininha, personagem de Guimarães Rosa, e pensei: xurugou?
Um passante
