ZÉ FRANGO
Era um tipo popular, estimado por todos de Alto Rio Doce e muito conhecido em toda cidade.
Parecia ter certa deficiência mental, mas, era muito educado e não causava mal a ninguém. Tinha o hábito de pedir alguma coisa de comer, de casa em casa, de preferência pão, o que provocou o apelido de Zé Pão. Seu nome verdadeiro eu nunca soube.
Todas as pessoas se apiedavam dêle, e por isso, davam-lhe roupas, dinheiro e comida.
Sua mãe morava na Zona Rural, na Chacrinha, segundo ouvi dizer, mas ele vivia na cidade.
Dormia em cômodos cedidos ora por uma pessoa, ora por outra, em geral perto das casas destas.
Havia na Rua de Baixo, hoje Rua Dr. João Batista Viana, uma senhora cujo apelido era Brasa, em casa de quem ele muitas vezes dormia, em quarto cedido pela mesma.
Nesta época, era Juiz de Direito da Comarca de Alto Rio Doce, Dr. Pedro Muzzi do Espirito Santo.
A esposa deste, Dona Zaíra, era pessoa muito atenciosa, educada, preocupondo-se de modo especial com os humildes. Muito caridosa, todo dia fornecia um prato de comida a Zé Frango, no almoço e no jantar.
Á mesma hora, todos os dias, aparecia Zá Frango e Dona Zaíra com muita paciência e bondade, servia-lhe do que fizera para o marido e ela comerem.
Certo dia preocupou-se Dona Zaíra em saber a origem e onde morava o Zé Frango. Sentou-se perto dêle e começou a fazer-lhe algumas perguntas. A cada uma destas Zé Frango respondia laconicamente.
Perguntou a êle onde êle dormia, ao que respondeu:
“Eu durmo na Brasa.”
Dona Zaíra espantou-se e perguntou novamente a êle: onde?
“Na Brasa” e despediu-se dela saindo da casa.
Dona Zaíra ficou pensativa, pois, não sabia da existência da Brasa, apelido da senhora que morava na Rua de Baixo. Ficou penalizada com o que ouvira e, quando seu esposo chegou do Fórum, este estranhou um aspecto triste no rosto da sua esposa, demonstrando ter chorado.
Perguntou-lhe então: “O que foi Zaíra, o que lhe aconteceu?”
Ela disse: Olhe Pedro, estou com muita pena do Zé Frango!
Hoje eu perguntei a êle onde dormia, para se esconder do frio à noite, tendo-me dito que dormia na brasa. Será possível que não encontre lugar algum onde dormir, precisando aquecer-se junto às brasas, por causa do Frio? Isto não pode continuar. Precisamos dar um jeito, Pedro.
Dr. Muzzi também se apiedou do Zé Frango e mandou chamar o Oficial de Justiça.
Pediu a este que providenciasse um cômodo onde Zé Frango pudesse dormir que êle pagaria o aluguel.
O oficial de Justiça achou estranha aquela preocupação e lhe disse:
“Mas, ele tem onde dormir, Dr. Muzzi, um senhora que mora na Rua de Baixo, cujo apelido é Brasa cedeu-lhe um cômodo. Posso ir lá saber se ele está ou não dormindo lá.”
Diante desta explicação, o Juiz chamou a esposa e esclareceu o fato ficando Dona Zaíra aliviada e satisfeita com a informação do Oficial de Justiça.
Autor Desconhecido
Texto enviado por
Lucio Flavio Couto Moreira